Reintegração Na Religiosidade – Joanna de Ângelis

Necessidade Da Fé Religiosa

O ser humano é um animal essencialmente religioso em razão da sua procedência. Mesmo nos hábitos mais modestos, assim como nos convencionais, encontram-se os atavismos da religiosidade que lhe é inata. Quando alguém diz: bom dia!, ou durma bem! Ou seja, feliz! etc, imagens arquetípicas predominantes em a sua natureza interna exteriorizam a sua procedência espiritual, o seu sentido religioso existencial, mediante uma formulação rica de desejos saudáveis. Igualmente, quando pragueja ou recalcitra, amaldiçoando ou blasfemando, repete imagens do mesmo tipo, no sentido oposto, que se lhe encontram no inconsciente pessoal, remanescentes da vigência religiosa que lhe é ancestral e predominante. Toda a história cultural do ser humano está fundamentada nos mitos, nas crenças, nas heranças pretéritas do processo evolutivo. Foram essas conquistas, logradas ao longo dos milênios, que facultaram à Cultura e à Civilização a elaboração de uma segura escala de valores morais e espirituais que contribuem para o equilíbrio do ser através das experiências que lhe são lícitas vivenciar ao longo da existência corporal. Sem o conhecimento desses valores – liberdade, felicidade, amor ao próximo, respeito, responsabilidade, direito à vida, à educação, ao labor, à recreação, para serem citados apenas alguns – o sentido existencial desapareceria, em face da ausência de motivações para a luta pelo trabalho, do esforço para a preservação da saúde, do empenho para a busca da felicidade, do devotamento pela constituição da família, do grupo social… Esses valores éticos e espirituais estão presentes em todas as religiões e são fundamentais no pensamento filosófico, sempre responsável pela elaboração de respostas para as enigmáticas interrogações sobre o ser em si mesmo, a vida, a morte, a realidade, o destino, as ocorrências felizes e desditosas… Remontando-se aos recuados períodos do desenvolvimento antropológico, por exemplo, o Paleolítico, pode-se encontrar o homem primitivo de então, tentando expressar o seu medo ou respeito, para ele inexplicáveis forças que se lhe sobrepunham, utilizando-se de cultos bizarros, expressos em gravetos e pedras sinalizados, que eram colocados junto às fogueiras, numa forma muito primária de culto religioso. O arquétipo da fé religiosa já se lhe apresentava como necessidade de sufragar algo que supunha sobrevivente à morte no clã ou fora dele… Na visão junguiana se afirma que a personalidade humana é constituída pela consciência e tudo quanto ela pode abranger, e pelo interior de amplidão indeterminada, ilimitada da psique inconsciente. Nessa personalidade muito complexa haveria algo de indelineável e indefinível, tendo-se em vista que uma grande parte, a que se expressa externamente, possui consciência, podendo ser observada, enquanto que inúmeras ocorrências permanecem informes, inexplicáveis. Assim raciocinando, pensa-se que há uma fonte geradora desses fatores desconhecidos que provêm de uma consciência mais ampla, de uma psique mais bem-elaborada e que se poderia denominar como intuição. A palavra pretende significar que o acontecimento não foi previsto, aparecendo inesperadamente, sem uma procedência determinada, como se ele próprio se produzisse. Essa intuição, numa análise religiosa, procederia da Divindade que administra tudo quanto haja criado. Através dessa reflexão, acreditava Jung no valor de qualquer confissão religiosa, especialmente a Religião Católica, pela autoridade exercida sobre as criaturas, atendendo–as nos seus momentos graves e de conflitos, mediante a absolvição do pecado ou a sua condenação pelo permaneci-mento nele. De alguma forma, no passado, esse mito constituía uma proteção para todos aqueles que se sentiam fragilizados e necessitavam do apoio de algo forte e dominante. O enfraquecimento moral do clero e a decadência do poder da fé religiosa, de alguma forma deixaram a criatura humana desprotegida, e, à medida que surgiram outras confissões, foram gerados mais conflitos do que segurança e apoio. Atendendo aos seus clientes, Jung, não poucas vezes, buscava informar-se qual era a religião que professavam, recomendando aos católicos que buscassem os seus sacerdotes para se confessar e, comungando, receberem a absolvição, mesmo que através de penitências sempre libertadoras; quando protestantes, em razão de haverem gerado muitos conflitos e perdido os dogmas e os ritos que se enfraqueceram, a solução seria sugerir maior integração nos postulados evangélicos, que lhes poderiam servir de suporte para se precatarem das amargas experiências imediatas, para as quais não possuíssem resistências. Superando o conceito de que toda neurose tem suas raízes fincadas na sexualidade infantil reprimida, ou encerra uma insuportável ânsia de ambição e de poder, a proposta, válida, apresenta-se através de uma análise dos outros conteúdos psíquicos no ser incapazes de suportar as referidas experiências imediatas. Não se pode descartar, no entanto, a hipótese espírita da reencarnação, na análise em tela, a fim de explicar-se a existência de fatores causais – anteriores à concepção — que podem expressar-se por meio da repressão da sexualidade infantil, ou da ambição e do poder, em razão das heranças graves que se encontram hoje no inconsciente pessoal do portador do transtorno neurótico. Nesse caso, o Self, expresso na personalidade humana, possui a totalidade dos fatores conscientes observáveis, assim como de todos aqueles que são indefiníveis e indelineáveis. O esforço que se deve empreender para o indivíduo conseguir a sua reintegração religiosa é valioso e tem caráter de urgência. Essa reintegração, bem se vê, não faz pressupor-se uma vinculação a tal ou qual confissão que predomine na consciência geral, mas que melhor atenda aos quadros de valores e necessidades de cada pessoa.

Trecho retirado do livro: “Triunfo Pessoal” – Série Psicológica Joanna de Angelis Vol 12 – 7. ed. – 2013
Divaldo Franco Pelo Espírito Joanna de Ângelis

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