Fatalidades

Vamos repensar o que é a uma fatalidade?

“…
Sorrindo com encantadora singeleza, a lúcida serva de Maria retrucou, enquanto acenava, convidando-nos a subir a escadaria de nobre edifício rodeado de colunas e velado por aprazíveis rendilhados de arbustos floridos e arvoredos frondosos, em cujos pórticos se lia esta simples inscrição – “Recolhimento”
” -Não, meu amigo! O senso indica que não poderá a Humanidade ser regida pela cegueira de uma fatalidade abominável! Deveríeis antes ter compreendido que aquilo a que chamais fatalidade não é senão o efeito de uma causa que o próprio homem criou no enredo das ações praticadas na Terra, quando nela viveu divorciado do bem, da moral e do dever, ou, no Além, como Espírito desnorteado da Lei, embrutecido nas trevas de que se rodeou, pois é ele mesmo, através dos atos bons ou maus que pratica, que determina a natureza, consoladora ou punitiva do próprio futuro! A fatalidade existirá, se assim o quiserdes, não cegamente, reduzindo a Humanidade a mero joguete, mas como sequência lógica, inteligentemente corretiva, de desvios delituosos, programada por seu próprio livre-arbítrio ao preferir o erro aos ditames da razão e da consciência! Tratando-se, pois, de um corretivo, esse estado de coisas desaparecerá no momento em que se corrigir a causa que lhe forneceu origem, ou seja, o traço inferior da maldade em que se estribaram os atos praticados. Assim também, nos programas que se elaboram aqui, visando ao futuro do delinquente, não se incluirão os pormenores, as atividades diárias, que será chamado a desenvolver nas operosidades da vida terrena, assim como não se cogitarão das particularidades que lhe sejam necessárias a fim de atingir o inevitável!
Apenas os pontos capitais serão por nós anotados, os que constituam reparação, trechos decisivos, sequências que marcarão justamente a lógica dos antecedentes acontecimentos, isto é, da Causa! A própria expiação encontra-se de tal forma arraigada na consciência do pecador, como efeito dos remorsos, das necessidades de progresso de um passado criminoso, que ele mesmo, sob o impulso de sua vontade livre, dar-lhe–ia cumprimento, ainda que não fosse delineada sob o critério dos nossos relatos. Convém, porém, que assim o façamos, porque, entregue a si mesmo, resvalaria para excessos prejudiciais, criando possibilidades desastrosas.
Outrossim, as capacidades que tenha para realizações meritórias serão também anotadas, e estas poderão até mesmo ser discriminadas, indicadas… pois nenhum Espírito, encarnado ou não, só porque se encontre jungido ao ergástulo das provações, será inibido de auxiliar o progresso próprio com a dedicação às causas nobres, devotando-se aos empreendimentos generosos para o bem do próximo. Ele, porém, o reencarnado, será livre de efetuar ou não aquelas realizações, que, antes da reencarnação, quando se preparavam as linhas do seu futuro, se comprometeu a atender.
Será livre, sim. Mas, no caso de se desviar do compromisso assumido, grandes pesares o angustiarão mais tarde, ao sentir que, além de ter faltado com a palavra empenhada com seus Guias, deixou de se aureolar com méritos que muito poderiam ter abreviado as caminhadas ríspidas das recapitulações a fazer… Como vê, meu amigo, não se trata de fatalidade, senão encadeamento harmonioso de “causas” e “efeitos…”
…”

Trecho do Livro: “Memórias de um Suicida”
Médium: Yvonne A. Pereira
Espírito: Camilo Castelo Branco

Comentários