A semelhança de justificativas

Sem títuloPor Humberto de Campos – Espírito

No cumprimento de sua costumeira obrigação,
o agente policial inquire o traficante de drogas, acerca dos motivos que o levam a agir daquela forma, destruindo jovens, viciando glebas, desmoronando a sociedade.
-Doutor, compreenda- (explicava ele, com ar implorante, em emocionada interpretação, deixando grossas e sentidas lágrimas escorrerem sobre as macilentas faces): — Sou um pobre coitado doente. Em minha casa duas meninas e mais a mãe, minha esposa, esperam ansiosas pelo pão que lhes levo todas as noites – e chora.
Uma turma de zombeteiros e orgulhosos se põe à frente do moderno centro de convenções, para ouvir o famoso palestrante espírita, médium de renome, a principal atração do Congresso, que iria ali acontecer. O preço do ingresso, alto e inacessível à média da população, trazia em si a defesa convencional: “parte da arrecadação irá para o lar dos desabrigados atendidos pela instituição…”.
Em meio ao luxo e aos brilhos de letreiros chamativos, destaca-se o que mostra o tema do Congresso: A caridade!
Em uma esquina, a mulher ainda jovem, em trajes pequenos, como a propagandear seus atrativos sensuais, explica aos patrulheiros que a abordam:
- Minha mãe está velha, senhores. Tenho um filho pequeno que depende de mim. Preciso ficar nessa lida, pois, do jeito que a coisa anda, esta é a maneira que tenho para que eles não passem fome – completa, lastimando.
Num canto de rua, espíritos de cor escura, entremeando gargalhadas guturais, esperam que se inicie a sessão de bingo na Fraternidade Espírita, regada a bebidas e outras “delícias”, cujo propósito era o de arrecadar fundos para atender aos necessitados da redondeza, apesar da viciosa prática. Curiosos viram quando o dirigente da Casa estacionou seu brilhante carro novo, e assumiu, com cara de choro, a expressão emocionada de autêntico mendigo.
Pego em flagrante delito, um infeliz meliante arrogava seus direitos:
A sociedade nunca me deu oportunidade, sempre tentei ser honesto, mas só recebi recusa e desdém. Não me sobra alternativa senão a de roubar. Roubar para comer.
O ocupante do cargo político, assustado, ajeitando suas vestes íntimas a fim de esconder os maços da corrupção, ponderava cioso e convicto:
- Todos sabem que parte deste dinheiro é entregue às entidades beneficentes! – com semblante de cândida inocência, assustado diante dos flashes.
A música alegre saudava o natal próximo, enquanto nas bancas repletas, livros multicoloridos, de preços elevados, concitavam o serviço da solidariedade, do amor, do Evangelho do Mestre. Nos balanços de anotações os altos lucros registram o progresso da livreira. Mas, com certeza o percentual estava ali, reservado às cestas de atendimento fraterno, em nome da caridade, da benemerência, de Jesus, do Amor, de Chico Xavier, da virtude… E daí por diante.
“Ai de vocês, mestres da lei, fariseus, hipócritas, que fecham o Reino dos céus aos homens!
Vocês mesmos nem entram, nem deixam entrar aqueles que o querem”. Mt 23.13”

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